domingo, 9 de março de 2014

Oh no, I'm the grown-up now!


Há meses ele não fala em outra coisa.
- Eu vou escola! Eu vou escola!
Vestiu o uniforme e saiu todo animado. A mãe foi atrás, prevendo mesmo que essa independência toda tinha prazo de validade...

Chegando na escola, já foi entrando na primeira sala que encontrou aberta. Se sentindo em casa.
Mas não era a sala dele, claro. Aliás ninguém sabia direito qual era a sala dele...
- Deixa ele aqui, a gente acolhe e depois vê direitinho qual é a sala!
Mas ele não está abandonado para ser "acolhido", pensei.
- Eu prefiro esperar.
Depois de algumas resoluções descobrimos que ele ficaria no Infantil 1B.
Descobrimos ainda que a profª era também uma amiga da família, coincidentemente, nora de uma velha amiga da avó do Mathias. Dá pra acreditar?

Na sala certa então ele entrou, sentou e se enturmou.
E eu tentando me disfarçar de cabide...
- E agora, tenho que ir embora?
- Sim. Fica tranquila que vai dar tudo certo!
- ... De qualquer jeito agora ele vai ter que ficar na sua sala! Porque foi pra você que eu entreguei a criança!
- Tudo bem, vai dar tudo certo! (ou seja: vaza!)

Ainda fiquei uns 25 min no portão da escola, olhando a porta da sala de aula fechada.
Esperando, quem sabe, poder enxergar através dela.
Cheguei em casa, e ... nada.
Todo dia eu reclamo. Digo que a única coisa que eu queria na vida era tomar um café da manhã em paz, sem precisar levantar da cadeira 35 vezes.
Hoje que eu tenho 4 horas pra tomar café aos litros, não consigo.
Se não fosse muito ridículo, eu ficaria as 4 horas inteiras na frente da escola tentando desenvolver uma visão de raio X.
Mas não dá, eu sei.

Enfim, 12h.
Me preparei pra encontrar o moleque correndo felizão! Imaginei que pra tirá-lo de dentro da escola seria necessário um carro-guincho.
Só que não.
Ele foi o primeiro a sair da sala pela mão da professora. Com os olhos inchados de chorar.
Quando me viu, ficou tão aliviado... Parecia que estava há uma semana perdido no mato!
Olhou pra mim como se eu fosse uma miragem, tadinho...
A professora:
- Ele se recusou a comer o lachinho, não quis ir ao banheiro e nem deixou que eu tirasse a blusa de frio. Chorou várias vezes. Ele está curioso, quer brincar, mas sente a sua falta. É normal na fase de adaptação.
- ... (suspiro)
- Conversa com ele hoje à tarde!
- Converso... (mas quem conversa comigo?)
- Conversa com ele! (o adulto aqui é você, porra!)

Mais tarde, com os meus botões...
- Acho que eu me precipitei... Acho que ainda não era a hora...
- Mas ele já tem 3 anos! Está na idade certa segundo os pediatras, segundo a pedagogia Waldorf, segundo o método Montessori, segundo Deus e o mundo...
- Mesmo assim, por lei ele só precisaria ir a escola em 2016...
- Mas ele precisa de novos estímulos!
- Tá bom, vamos perguntar pra ele, então...

- Mathias você gostou da escola?
- Gostô!
- Você gostou da professora?
- Gostô!
- Você gostou de brincar com os bebês?
- Gostô!
- Mas então, porque você chorou a manhã inteira, minha nossa senhora?
- Ficô sadade mamãe...

Morri.